sábado, 20 de julho de 2019

A história de uma época


Agora que já estou meio velha (sorry, eu do futuro, sei que você está mais velha agora) e finalmente entendi que na maioria das vezes sonhos não passam de sonhos, ler esse tipo de livros só me causa nostalgia. Sei que é estranho ter nostalgia de algo que não vivi, mas é o que eu sinto. Porque eu queria ter vivido. Queria, quando tinha 18 anos e achava que isso era bastante provável.
Estación Imposible é um livro-reportagem sobre a revista argentina Expreso Imaginario, que existiu nas décadas 1970 e 1980 e que acabou gerando muitas outras revistas contraculturais do mesmo estilo. Não era uma publicação de rock argentino. Era também de rock argentino. E de rock inglês, americano, e de música brasileira, e de ciência, de literatura, de cinema, de tudo o que não aparecia nas outras revistas. A Expreso Imaginario literalmente mudou a vida de todo mundo que teve contato com ela, de quem trabalhou ali, de quem apareceu em suas páginas e de quem alguma vez na vida teve a oportunidade de ler alguma matéria. Eu não tive, mas 35 anos depois de ter deixado de circular, ela acabou afetando inclusive a minha, só de saber da sua existência, de como era feita, de quem a fazia e do tipo de conteúdo que trazia.
 Uma vez na faculdade tivemos que criar uma revista e produzir reportagens de acordo à temática escolhida por toda a turma. Eu nunca fui muito de me meter em decisões coletivas, prefiro aceitar o que maioria quer e evitar o estresse, mas dessa vez o medo de escolherem uma revista esportiva me deixou impaciente. Quando todos estavam sugerindo temas, esperei por um breve silêncio e disse: “podia ser uma revista de contracultura”. Só a professora e mais uma ou duas pessoas na sala sabiam do que eu estava falando. Pelas caras já me parecia óbvia a negativa à minha ousada sugestão, até que alguém disse: “ou simplesmente de cultura!”, e assim foi. Melhor que nada. De qualquer modo, eu faria uma matéria com a Reino Fungi, outrora uma das bandas mais célebres de Santa Catarina - mesmo se a revista fosse científica.
 Anos mais tarde, quando achei que estava no caminho natural para realizar meu desejo mais profundo, trabalhando como repórter no caderno de cultura de um jornal mediano, sempre tratei de levar coisas meio marginais às suas páginas. Também tentei ser a descobridora da nova melhor banda catarinense de todos os tempos - e quase fui. Culpa das bandas que decidiam acabar meses depois.
 E então, não mais que de repente, terminou a minha jornada recém empreendida. Eu tinha 25 anos, já não cabiam mais em mim as ilusões. O lugar que eu queria ocupar já não existia e os lugares próximos a isso estavam muito bem ocupados por meia dúzia de gente que teve esse mesmo sonho, só que muitos anos antes e com muito mais oportunidades. E essas pessoas provavelmente ficariam desempregadas dentro de pouco.
 Se eu tivesse lido Estación Imposible há 10 anos eu teria tido muito mais material para sonhar, e provavelmente muito mais frustrações quando percebesse que aquele jeito de contar histórias já estava morto e enterrado. Mas lendo agora só me causou isso: uma leve nostalgia. E nenhum arrependimento de ter deixado o jornalismo.

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