sexta-feira, 19 de outubro de 2018

De volta a Belgrano

Adiós, Colegiales

Não deu tempo de ficar triste e nostálgica na semana em que deixamos a calle Aguilar e o bairro de Colegiales. Tínhamos tanto a fazer, entre empacotar, pintar o apartamento, começar a levar as coisas em partes, que simplesmente não sobrava espaço para a minha mente entender o que estava acontecendo. Agora que já passou quase um mês, começa a doer um pouquinho, tenho que admitir.
Nosso ex-apartamento era escuro, não podíamos saber se tinha sol ou se estava nublado sem colocar a metade do corpo para fora da janela, escutávamos os vizinhos tossindo, espirrando e sabíamos dos seus problemas familiares porque nossas janelas davam para suas janelas, mas fomos felizes ali. Quando chegamos, em setembro de 2016, não tínhamos quase nada, o apartamento ficou praticamente vazio por um tempo e devagarinho fomos montando tudo como a gente queria - e conforme a verba nos permitia - e amamos muito cada metro quadrado daquela escuridão, do piso de parquet que brilhava, do inverno que não era tão frio, do verão que não era tão quente. Por dois anos amamos também a calle Aguilar, provavelmente a mais bonita que já morei, e amamos estar tão perto de tudo e poder fazer tudo sem muita dificuldade. Eu amava poder ir ao trabalho a pé, mesmo depois de ter mudado de trabalho. Eram 15 quadras que me faziam pensar na vida, além de não gastar com ônibus nem me estressar com a demora e com gente me encoxando.
Mas a mudança era um plano concreto desde o dia em que descarregamos nossas poucas coisas ali. Queríamos ver o céu, sentir o sol, ver a chuva caindo, queríamos poder ter outras plantas que não fossem cactus e pagar um valor justo. E dois anos depois foi o que me devolveu a esse Belgrano que tanto amei outrora, antes de conhecer Colegiales. Eu sabia que ia doer. Eu sabia que a sombra das árvores e a tranquilidade de Aguilar não iam sair da minha cabeça tão rápido. Nem o supermercado chino que abría todos os dias até às onze da noite.
Voltar pra casa depois de um dia inteiro na rua não é mais a mesma coisa. Girar a chave na fechadura da porta do edifício é bem diferente e fica difícil não pensar constantemente nas coisas que eram muito melhores em Aguilar. Mas a gente sabe que está só começando. Que é diferente, mas que diferente não significa pior, e que provavelmente vai ser tão bom como era antes. A gente sabe que sente saudades de Aguilar por uma única razão: fomos muito felizes ali. A solução me parece ser feliz também em Vidal, agora com o sol entrando pela sacada. E se a saudade apertar... Bem, estamos a umas dez quadras.

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