quarta-feira, 29 de novembro de 2017

O silêncio de Colegiales

Nos primeiros meses que vivi em Belgrano eu não sabia exatamente o que existia do “lado de lá” da avenida Cabildo. Ela só servia para ligar meu bairro ao resto dos lugares que eu frequentava, e na época só conhecia o lado “de cá”, o lado das barrancas. Quando comecei a trabalhar na agência onde me encontro até hoje, há exatamente um ano e oito meses, comecei a explorar um pouco deste “outro lado”, embora achasse por alguns dias que ainda era Belgrano, já que ela está a somente a uma quadra e meia da avenida Cabildo. Logo descobri que na verdade eu estava nesse estranho e desconhecido bairro de Colegiales. Ao mesmo tempo descobri que é muito comum que quem não viva no bairro faça essa confusão. É meio difícil saber onde começa um e onde termina o outro, e isso só ficou realmente claro quando eu vim morar em Colegiales, há um ano e dois meses. Mas nada disso importa.


No início eu só gostava daqui porque era encostadinho ao meu bairro tão amado, mas em pouco tempo comecei a ter sentimentos reais por essa vizinhança e todas as suas peculiaridades. Colegiales é muito mais tranquilo que Belgrano, muito mais residencial, tem muito menos edifícios, e aos meus olhos é até um pouco menos bonito, mas ele tem um jeitinho encantador.
Como em Buenos Aires os bares começaram a se “descentralizar”, inclusive em bairros residenciais como este, é muito comum encontrar por aqui um burburinho cortando a paz de alguma rua tranquila e pouco iluminada à 1h da madrugada. E se numa sexta à noite é possível tomar cerveja artesanal e comer hambúrguer sem ter que caminhar muito, no sábado de manhã você descobre entre os casarões antigos lugares que aparentemente não estavam ali. Uma verdulería que ainda mantém o mesmo design (e a mesma balança) desde sua inauguração em 1982, uma livraria, um restaurante, um armazém, um café, uma lojinha de artesanato. E a feira, claro, que funciona todos os sábados das 8 às 14h, no meio da rua.


Apesar dos bares, Colegiales é quase sempre silêncio. Todo seu ruído se concentra nas três avenidas mais movimentadas: Federico Lacroze, Álvarez Thomas e Elcano. Nem o trem elétrico que corta o bairro faz barulho, e agora que a ponte para passar por cima dele a través da rua Zabala está pintada e iluminada, é até um pouquinho emocionante ficar alguns minutos ali observando. Às vezes o que interrompe o silêncio é um carro com alto-falantes que passa de manhã durante a semana. Eu até hoje não sei se ele vende algo ou se recolhe sucata, porque não se entende nada, mas a cada tanto ele aparece.

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