sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Eu não sei de nada

Sempre que aprendo alguma coisa nova me impressiona muitíssimo a sensação que vem logo em seguida: a de que na realidade eu não sei porcaria nenhuma a respeito de nada. É perturbador. Em vez de ficar feliz porque descobri algo novo, me pego pensando que existem milhões de coisas que eu ainda não sei e outras bilhões que eu nunca vou saber.
É pior ainda quando se aprende algo bastante óbvio por meio de outra pessoa, porque afinal como até ela sabia disso? Não estou falando de uma aula com um especialista ou de uma conversa com um senhor de 85 anos. Me refiro a um amigo que você conhece a vida inteira, um colega de trabalho que tem a sua idade e que sempre pareceu meio intelectualmente limitado ao seus olhos. Pois bem, até ele sabia. Então eu começo a pensar em como raios consegui terminar o ensino médio e a faculdade sendo tão escandalosamente burra desinformada. E já fui muito pior, obviamente.
Voltando algumas casas desse jogo sem sentido chamado vida, chego ao meu “eu” de dez anos atrás. Quase 18, eu tinha. E foi recém ali que comecei a descobrir que eu era ignorante. Antes eu me achava meio foda. Eu amava rock e não sabia nem quais eram os Beatles que ainda estavam vivos e quais já tinham morrido. Eu adorava ler. Além de Harry Potter, lia John Grisham, Dan Brown e Sidney Sheldon.
Minha casa nunca foi muito artística ou intelectual, e a isso eu atribuo grande parte da minha burrice falta de conhecimento. Meu pai e minha irmã costumavam ler bastante, mas meu pai tinha um gosto meio duvidoso, na sua estante era quase tudo na linha “O Monge e o Executivo”. Minha irmã por sorte lía coisas mais interessantes e isso ao menos me fez ter vontade de abrir um livro na adolescência.
Música menos ainda. Meus pais só escutavam sertanejo e música de baile do interior. Fui descobrindo as coisas meio sozinha e logo comecei a me achar muito astuta por conhecer bandas que pouca gente conhecia.
Daí finalmente entrei na faculdade. Outra cidade, outro estado. Tinha gente de tudo quanto é canto. De Porto Alegre, de Florianópolis, do Paraná, de São Paulo, do Rio de Janeiro, do Mato Grosso do Sul, do Nordeste. Gente que era dali mesmo de Balneário Camboriú, mas recém tinha voltado de um intercâmbio de um ano em Los Angeles. Eu acho que nunca tinha chegado perto de alguém que havia morado no exterior.  
Foi quando eu comecei a perceber que eu não sabia nada. No primeiro semestre um rapaz que estava um ano à frente descobriu que eu lia coisas ruins e me mandou um e-mail com dicas de livros, o assunto era “largarás o pútrido”. Eu achei meio arrogante, então ignorei. Lembro que tinha Bukowski na lista, mas só fui ler no ano seguinte por influência indireta de outra pessoa. Demorou dois livros para que se tornasse um dos meus escritores favoritos.
Desde então, cada dia que eu aprendo algo novo, me sinto um pouco mais ignorante.
Esses dias descobri que existem cabos submarinos que atravessam oceanos inteiros para conectar todo o planeta à internet e que aqui na Argentina os cabos saem de uma tranquila prainha de senhoras chamada Las Toninas.
Só agora eu soube disso. Só agora.

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