quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Nova vizinhança

Amanhã vai fazer um mês que eu deixei Belgrano. Parecia impossível, mas sim, ele me deixou ir – ainda que não pra muito longe. Agora vivo em Colegiales, um bairro um pouco menos metido a besta, colado ao meu antigo. Aqui não tem barulho de trem. Não tem barulho de nada, na verdade. Nem de carro, nem de passarinho, porque é um apartamento interno. Isso quer dizer que se eu abro a janela do quarto verei apenas outras janelas. Se abro a da cozinha, idem. E se abro o “balcón francés” da sala dou com os olhos em uma parede branca. Mas eu não tô reclamando. Não mesmo.
Em meu novo apartamento eu levo exatos quatro minutos para chegar ao trabalho. Uns 5 para pagar uma conta de luz. Uns 10 para comprar cerveja gelada, salsichas, chocolate ou detergente. Uns 12 para comprar morangos, bananas ou brócolis. Uns 15 para comprar descongestionante nasal. Eu posso não ter uma boa vista, mas minha vida se tornou um pouco mais fácil. Embora não sem antes ter sido bastante difícil.
Depois da experiência de morar em três apartamentos diferentes em oito meses nesta cidade, só digo uma coisa: conseguir um lugar minimamente decente para viver em Buenos Aires é mais difícil que conseguir um emprego nas mesmas condições.
Para alugar um apartamento que não seja temporário, você basicamente precisa deixar todos os seus órgãos como garantia. Todos. Isso depois de apresentar o contracheque – meu e do boy, que agora é meu roomate – e a escritura de uma casa. Na capital. Se não for na capital, a casa tem que ser de familiar direto. Mas mesmo sendo de familiar direto, tem que ser ao menos na província de Buenos Aires. Às vezes te pedem duas propriedades como garantia e não apenas uma. Às vezes te pedem que o fiador – o dono da casa – tenha o mesmo sobrenome. E se depois de tudo isso a imobiliária ainda achar que você pode não pagar o aluguel, te pedem outro fiador, que não precisa ter uma casa, mas que tenha um bom contracheque. Sem isso, nada feito. E às vezes com TUDO isso, nada feito também. Sim, porque se aparece alguém que tenha o salario mais alto que o teu, já era.
Procuramos apartamento por quase dois meses, visitamos aproximadamente 20, nos interessamos verdadeiramente por cinco. Só conseguimos um porque ninguém com mais dinheiro teve interesse nos dias seguintes a nossa visita. Ou seja, além de tudo é preciso ainda ter sorte. Puta que pariu.
A boa noticia é que se tudo seguir bem não vou ter que me preocupar com isso pelos próximos dois anos – porque com o fim desse maldito contrato o plano é ter ao menos uma vista ao abrir a janela. 

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