sábado, 23 de abril de 2016

Contos bizarros do 152

Uma das coisas que mais me empolgaram quando soube que voltaria a viver em Belgrano foi a possibilidade de pegar o 152 na volta da noite. O 152 é um ônibus que recorre (entre outras) toda a avenida Santa Fé, toda a avenida Cabildo (e vice e versa) e passa com muita frequência durante as 24 horas do dia. Ou seja, é com ele que boa parte das pessoas quem não possuem carro nessa cidade volta pra casa ou vai pra balada na madrugada. Desse modo, é muito comum encontrarmos tipos muito estranhos nele. Ou pessoas normais em situações críticas.
Sexta-feira passada eu voltava pra casa de algo muito tranquilo, em um horário relativamente cedo, ainda não eram nem duas da madrugada, quando entra esse sujeito no 152.

Agüero!  Gritou ele pro motorista.

Aqui a gente tem que dizer pra onde vai, o motorista registra o valor em uma máquina e então você passa o cartão para pagar a passagem.

Agüero é lá pra trás, tem que pegar o ônibus do outro lado da rua — respondeu o motorista.

Agüero! Agüero!

Já passou Agüero!

Agüero e Cabildo!

­Agüero e Cabildo? Isso não existe.

Federico Lacroze e Cabildo.

Ah, agora sim.

E seguimos viagem.

Eu tava sentada em um dos bancos mais à frente, o bêbado passou por mim e seguiu para o meio do ônibus. Ficou parado ali por um tempo e em seguida voltou para a parte da frente, meio cambaleante. Sentou no degrau de um banco individual onde estava uma moça, que imediatamente se assustou com aquele estranho roçando em suas pernas.
Eu evitava ficar olhando aquela cena, mas de repente a mulher que tava do meu lado disse delicadamente "ele vai vomitar". Nisso, o bêbado levantou já com a boca cheia de vômito, enquanto outro rapaz que estava na minha frente, naqueles bancos que ficam de costas para o motorista, fez um coro junto a uma moça que estava ao fundo. “ELE VAI VOMITAR! ABRE A PORTA, ELE VAI VOMITAR!!!”, gritavam os dois.
Por sorte a porta do meio estava muito próxima, o motorista parou, abriu e o rapaz saltou no dilúvio que caia lá fora.

Nesse momento eu já não enxergava mais, tudo acontecia às minhas costas, mas o rapaz que estava na minha frente fez uma cara de nojo tão expressiva que eu consigo imaginar exatamente qual foi a cena seguinte ao bêbado pular ônibus afora. 

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