terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Na vida eu sou o nerd excluído no canto da sala

Quando eu estava no ensino médio eu nunca pensei que um dia eu me tornaria o André. Ou melhor, nunca pensei que eu me tornaria alguém pior que o André, porque a existência dele até pode ter passado despercebida por todos os nossos colegas de classe, mas ele tinha o João. Ele tinha um amigo, que passou tão despercebido quanto ele todos aqueles anos. Mas eles estavam lá juntos e nunca ficavam sem dupla quando um trabalho exigia.
Eu tinha vários amigos. Tinha o grupo das gurias, tinha o meu melhor amigo, que às vezes se metia ali no meio, e ainda conseguia me dar bem com qualquer outra pessoa que passasse por mim pra jogar no lixo alguma caneta estourada. Eu sempre tinha com quem conversar sobre qualquer assunto, sempre tinha alguém que sabia de tudo o que acontecia na minha vida. Eu sempre tinha com quem ir para uma festa. Eu sempre tinha alguém pra ligar no meio da tarde. Pra passar o sábado inteiro falando no MSN. Pra tratar das minhas desilusões amorosas. Pra dividir minhas ambições, que já não eram poucas.
Mas daí na faculdade depois de um tempo eu meio que me tornei o André. Na verdade eu me tornei algo pior que o André, porque eu não tinha o João. Todos os amigos que eu fiz no primeiro e no segundo semestre abandonaram a faculdade, e, eu, além de não conseguir fazer novos, não consegui manter aqueles lá sem uma mãozinha dos tijolinhos laranja. Esse se tornou o retrato da minha vida desde então. Porque vão-se as cidades, vão-se os empregos, vão-se os namorados,e com eles todos os lacinhos que eu estava amarrando.
 Eu nunca mais tive amigos como aqueles que há quase dez anos ficaram bêbados comigo na formatura do colégio. E os vi pouquíssimas vezes depois desse dia.
E não é que eu não queira ou que eu seja uma pessoa tão desagradável aos olhos dos outros (talvez eu seja). Eu simplesmente não consigo criar uma aproximação e quando consigo, não tenho a menor capacidade de mantê-la por muito tempo.
Outro dia estive bem perto de reencontrar uma amiga de infância (que ficou bêbada comigo na supracitada formatura). Apesar de não vê-la há quase quatro anos, nunca perdemos o contato. Ela estava na cidade e eu muito cansada pra sair à noite. Combinamos um café da manhã. Eu acordei e ela não. Foi embora poucas horas depois. Provavelmente ficaremos outros quatro sem ver a cara da outra.

Então é assim. Eu preciso da vida me ajudando. 

Um comentário:

  1. Muito bom esse texto, e triste... Gostei do blog, é do tipo que a gente acha em algum canto da internet com coisas legais. Espero que continue escrevendo...

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