segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Eu tenho uns contos

–  Tu escreve também?

Eu tinha entendido exatamente o teor daquela pergunta, porque ele sabia que a receptora se tratava de uma jornalista que até pouco tempo trabalhava em um jornal, fazendo o quê? Justamente escrevendo. Mas não era a isso que o rapaz se referia. Ele queria saber se eu tinha a mesma aptidão que ele de sentar por horas a fio e digitar uma história mais ou menos fictícia inventada na hora por minha mente inquieta.
Eu não sei como eu tenho coragem de responder que tenho uns contos guardados, porque se em algum momento uma pessoa dessas me pedir para ler algum deles eu vou ter um ataque de pânico. Prefiro que me vejam pelada, chorando ou cagando a que leiam um dos meus contos.
 E aí eu minto – e narro isso em tempo presente porque não foi a primeira vez que um escritor perguntou se eu também escrevo – que já tentei escrever uns romances, mas que a história sempre acaba cedo demais e aí vira um conto. A parte de ter começado um romance é verdade, mas ele não virou conto coisa nenhuma.
Ele não virou nada. Era ruim demais para ser um romance, era ruim demais para ser um conto e provavelmente foi o arquivo dele que causou danos no meu computador em 2014, porque ele era ruim demais até para ficar intocado dentro da pasta Documentos.
Outro dia eu fui ouvir uma fala do Cristovão Tezza e saí de lá com uma vontade louca de escrever um livro. Foi lindo o que ele disse sobre o que provoca alguém a escrever: a tristeza. Gente feliz tá vivendo, tá fazendo coisas legais, tá se divertindo, não vai se enfiar num quarto o dia inteiro para escrever, ele disse. E me parece verdadeiro. Mas nem a tristeza tem o poder fazer algo decente sair de dentro de mim.
Graças a deus a vontade de escrever o tal livro passou assim que eu meti a chave na fechadura para entrar em casa. Eu sinceramente não merecia outro motivo para envergonhar-me a mim mesma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário