quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Se valeu a pena?

 Tive dor de barriga depois de comer chimichurri pela primeira vez. Conheci um argentino que fala umas oito línguas e nunca saiu de seu país. Chorei. Reencontrei amigos.  Fiquei bêbada à custa dos outros. Voltei sozinha para casa um par de vezes de madrugada no combo 152 + pernada. Um terço dessas vezes eu estava chorando. Bêbada, claro. Fui a dois shows da Tan Bionica. Conheci um equatoriano, um irlandês, um paraguaio, um salvadorenho e uma colombiana. Me apaixonei. Chorei de novo. Me perdi bêbada no meu próprio bairro, chorando. Comi rim e intestino de vaca. Tomei uma garrafa e meia de vinho em uma noite. Sofri por amor. Chorei. Passei vergonha no transporte público. Comi 200 gramas de doce de leite em uma tarde.  Li um livro deitada na grama da praça. Li um livro em um café. Trabalhei montando e pintando molduras. Aprendi a fazer pátina. Fui a uma universidade estudar rock. Tomei Fernet. Tomei Gancia. Fiz brigadeiros para um argentino. Caminhei na chuva pelas mansões de Belgrano R com um cara que parecia o Jack White. Dormi bêbada no carro de um semi-desconhecido enquanto voltávamos de um show em outra cidade. Andei de trem. Fiz minha 11ª tatuagem. Fui abordada por um rapaz simpático no subte. Fui abordada por um rapaz simpático e bonito na parada de ônibus. Fumei un porro andando pelas ruas de Belgrano à noite. E na terraza de um prédio de onde se via o trem passar. Andei por umas ruas estranhas em La Boca. Foi a única vez que senti medo em Buenos Aires. Hospedei uma semi-desconhecida em meu quarto. Fiz eye contact na rua. No subte. No ônibus. No parque. No bar. De dia e de noite, porque tem homem lindo em todos os lugares a todo instante. Fui chamada de bonbon, preciosa, hermosa, divina, reina, espectacular. Me disseram “te quiero”. Conheci um judeu. Ele me contou sobre seu bar mitzvah. Saí de casa sem nenhuma maquiagem. Saí de casa vestida igual uma indigente. Tomei café da manhã e almocei na rua com a roupa da noite anterior e a cara amassada. Aprendi espanhol. Aprendi a separar amor de sexo. Aprendi que a solidão às vezes é uma merda. Aprendi a cozinhar com o que tem na geladeira. Aprendi a dizer sim. Fui chamada de desequilibrada e de pendeja de mierda. Conheci dois psicólogos que disseram que eu sou normal. Tentei aprender a jogar xadrez. Tentei pintar um quadro. Comi os melhores hambúrgueres da minha vida. Comi pomelo rojo. Li dois livros em espanhol. Fui ao cinema ver um filme argentino. Conheci um monte de bandas argentinas. Fui feliz. Fui triste. Senti saudade. Chorei de novo. Descobri coisas sobre mim. Descobri coisas sobre o amor. Amei loucamente. Me apaixonei por uma cidade. Prometi voltar para ficar.

Sim, valeu a pena.

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