quinta-feira, 25 de junho de 2015

Eu e o Subte


Quando eu cheguei a Buenos Aires só havia uma única coisa que eu tinha certeza que jamais faria, por pura falta de capacidade intelectual de seguir os procedimentos corretamente. Esta coisa era pegar o Subte. O Metrô dos porteños.
Veja bem, eu nasci em uma cidade onde apenas uma empresa de transporte operava e onde você muitíssimo raramente precisava, por exemplo, pegar dois ônibus para chegar a algum lugar. Depois, mudei para uma cidade onde operavam duas empresas, sendo uma delas intermunicipal – a única que eu utilizava – e mais tarde fui apresentada àquela zona chamada transporte público de Florianópolis, que era bem complicado, mas ainda assim dava para encarar: você entrava no ônibus, pagava, sentava, observava a paisagem e descia onde precisava descer.
Eu nunca havia me transportado por debaixo da terra e quando caminhava pelas calles de minha nova cidade e via as entradas das estações de Subte ficava imaginando o mundo obscuro que havia lá embaixo. Um mundo sem muito ar, com alguma escuridão, muitos guichês, catracas, escadas rolantes, placas de saída, placas indicando a direção de cada trem, placas de todos os tipos, gente, muita gente, muita gente com pressa. Eu jamais conseguiria fazer aquilo da maneira correta. Eu jamais conseguiria descer ao subsolo, passar meu cartão em uma daquelas catracas e ir para a direção correta. Jamais.
Até que um dia eu resolvi enfrentar os meus medos. Minha tarjeta SUBE (Sistema Único Boleto Eletrônico), que é o cartão que você carrega e usa no ônibus, Subte e trens, estava zerada. Na época eu ainda vivia no hostel e um amigo de lá me deu todas as instruções.

– Se você vai até a Plaza de Mayo, observe que você tem que ir na direção da estação Catedral, e é lá mesmo que você desce. A SUBE dá pra carregar na estação mesmo. Não tem erro.

Sempre quando alguém diz que não tem erro, tem erro sim. Mas eu fui. Daquele meu jeito.
Era um domingo e não tinha muito movimento na estação próxima de onde eu estava, de modo que eu não vi pessoas descendo a escada para me certificar se aquele buraco era só para sair ou para entrar também – às vezes é só para sair e vice-versa. Então eu fui descendo para entrar e achei que estava fazendo errado. Saí pelo mesmo lugar e andei alguns metros na calçada até o próximo buraco. No fim das contas vi que era a mesma coisa e que eu não precisava ter me dado a esse trabalho. Bueno.
Dentro da estação me dirigi a um dos guichês, estiquei meu braço com a SUBE para a atendente e disse que queria carregar. Ela, por sua vez, disse que não carregavam. Deve ser porque era domingo, sei lá. Entrei em pânico por um segundo e meio até ser informada de que vendiam apenas os bilhetes. Melhor que nada. Pedi um, larguei 5 pesos no balcão e fui em direção à catraca. Enfiei o bilhete, fui passar e... claro que a catraca não liberou. Dei mais um impulso e nada. Outros segundos de pânico até eu perceber que eu tinha que remover o bilhete do buraquinho, aí sim a catraca me deixava passar. Pronto, tudo certo. Peguei o Subte certo, desci no lugar certo, claustrofobia nível moderado. Sobrevivi.
Na segunda vez que peguei o bendito foi para vir a Belgrano resolver a minha mudança. Mesma linha, porém direção oposta. E assim fui vivendo, fui até pegando uma simpatia pelo bichinho, mas uma angústia sempre me perseguia. Veja bem, eu já havia tomado o Subte algumas vezes e já estava me acostumando a tudo, mas eu só utilizava uma única linha, a D. Minha angústia girava em torno do momento em que eu precisaria fazer uma combinação. Isto é, descer em uma estação, ir andando naquele labirinto modorrento cheio de placas até outra estação e pegar outro Subte.  E eu sabia que esse dia chegaria muito em breve, porque a universidade onde me matriculei fica do outro lado da cidade, em diagonal. Ou eu ficava uma hora e meia no ônibus em horário de pico, passando frio e correndo o risco de ser assaltada ao descer/esperar o bendito na parada do bairro Constitución ou... bem, ou eu enfrentava mais esse desafio. E eu consegui, sem dramas,  sem erros, sem pânica ou desespera, na última sexta-feira, no primeiro dia de aula.
Sinto que nada mais pode me parar.

2 comentários:

  1. Oi, Julie! Que legal suas aventuras. Continua contando pra gente!! Você vai fazer outra graduação na Universidade?

    Abraços!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Sílvia! Estou um pouco parada com o blog ultimamente, mas vou voltar a escrever com mais frequência.
      Não vou fazer outra graduação "ni en pedo", haha. Eu estou fazendo um cursinho que é uma extensão do curso de jornalismo da UAI (Universidad Abierta Interamericana), mas é só dois meses, já acaba na segunda semana de agosto. Eu tenho vontade de ano que vem fazer uma pós aqui, tudo vai depender de como vão seguir as coisas, se eu já não voltar pro Brasil esse ano, coisas da vida...

      Abraço!

      Excluir