quinta-feira, 21 de maio de 2015

Minha devoção por Paul Stanley


Que dia louco foi aquele. Eu fiz jornada dupla no jornal porque sabia que valeria a pena, mas ni en pedo imaginei que de alguma forma aquilo poderia mudar alguns aspectos da minha vida. Ou da minha percepção sobre a vida. Enfim. Sei lá.
A jornalista que estava editando temporariamente o Plural esticou o braço em minha direção e na mão dela havia um bloco de 500 páginas com Paul Stanley na capa. “Lê, e quando terminar pode fazer uma resenha”, ela disse, sem muita seriedade.  “Ah, sim. Em dezembro”, eu respondi. Rimos e voltamos ao trabalho. Tola.
Fiz jornada dupla naquele dia porque precisávamos de matérias para fechar – e cedo – a edição de terça-feira, mas também precisávamos de um texto sobre o show do Kiss que aconteceria em Florianópolis à noite. Eu era repórter do caderno de cultura, mas quem faria esse trabalho era um colega do caderno esportivo, fã de Kiss. Ele declinou na sexta-feira, três dias antes do show, e herdei o compromisso.
Eu não conhecia quase nada de Kiss. Sabia que era a banda de Paul Stanley e do excêntrico Gene Simmons, sabia algumas frases de alguns refrãos e lembrava do minha fascinação ao vê-los pela primeira vez na televisão, aos nove anos, quando tocaram em Porto Alegre. Mas quando pousei “Uma vida em sem máscaras” em minha mesa só sabia que aquele personagem da capa se chamava Starchild porque três dias antes comecei uma pesquisa sobre o Kiss para poder escrever da maneira mais decente possível sobre a experiência do show.
Li umas cinco páginas ainda na redação, fui para casa com ele debaixo do braço e três horas depois estava de volta para encontrar o fotógrafo que iria comigo à pauta no carro do jornal.
Eu tinha a impressão de que talvez fosse acontecer algo semelhante ao que houve comigo e o Guns’n Roses quando cobri o show deles, só que eu já nutria uma simpatia pelo Kiss que jamais tive pela banda de Axl. Isso pode ajudar a explicar a catarse que tive quando Paul, Gene, Tommy e Eric apareceram no palco a poucos metros de mim.
Eu pouco aproveitei a execução de Detroit Rock City porque estava vidrada naquela cena e fiquei repetindo mentalmente “Caralho, é o Paul Stanley. Caralho, é o Gene Simmons. Caralho, é o Paul Stanley. Caralho, é o Gene Simmons” até a música acabar e Paul começar a primeira de sua série de conversinhas com o público. Depois daquele show eu já estava apta a pintar uma estrela no olho e me unir àquele bando de gente que eu até então não compreendia.
Daí é claro que no dia seguinte eu só queria saber do livro. Fui devorando de maneira vertiginosa uma quantidade surpreendente de páginas diárias até desacelerar ao perceber que se eu terminasse aquilo logo eu teria um buraco existencial. Menos de três semanas depois do dia do show, do dia que a editora esticou o braço com o livro em minha direção, eu tinha terminado de ler. Queria abraçar Paul Stanley.
Enquanto eu lia, aquele show ia fazendo cada vez mais sentido na minha cabeça. Paul não teve uma infância muito fácil e até antes dos 50 anos pouco sabia a respeito de felicidade. Era rico, famoso, desejado, mas quando saía do palco não sabia muito bem o que fazer da vida. Só teve uma coisa que nunca mudou desde a primeira vez que ele pintou a cara de branco e fez uma estrela preta ao redor do olho direito: a dedicação que ele tem com aquela banda. E também a vontade de fazer todo mundo se sentir incrível no show do Kiss. Todo mundo. Qualquer um. Da mocinha na grade ao rapaz no camarote até aquele senhor lá no fundão que só consegue enxergar pelo telão. O Kiss fez um show pra mim, e todo mundo sente o mesmo. Paul Stanley é o principal responsável por isso.
É impressionante conhecer os problemas pessoais dele e os que o Kiss enfrentou enquanto eu, de longe, só sabia da banda o que aparecia por acaso na TV ou em alguma revista especializada. Para alguém como eu, o Kiss sempre foi aquilo ali: uma banda sólida, eterna, com músicas eternas e fãs eternos. Hoje eles são, mas entre o que sempre foi considerado o seu auge e agora, na plenitude, houve um turbilhão inimaginável.
Acompanhar as tristezas, frustrações e as vitórias de Paul ao longo daquelas 500 páginas é capaz de tirar qualquer um de sua zona de conforto. Ou de desconforto. Ao falar das coisas negativas que os outros fizeram a ele – sem poupar mortos, vivos ou mesmo pessoas tão próximas como Gene Simmons – Paul pode ter deixado de lado algumas de suas próprias crueldades (quem nunca foi mau, afinal). Mas disso só saberemos quando outro Kiss escrever sua respectiva biografia. No momento, tenho um novo ídolo. 

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